Túmulos antigos do Cemitério São João Batista

Túmulos antigos do Cemitério São João Batista

A história dessa necrópole tem inicio em 26 de março de 1890. Quando o Governo do Estado solicitou à Superintendência Municipal que lhe indicasse uma área onde se pudesse construir assim um campo santo.

Menos de quatro meses depois, em 1º de julho, uma comissão composta, entre outros, por João Carlos Antony que apresentou assim o local encontrado. Um terreno situado no bairro do Mocó, atual Nossa Senhora das Graças.

A autorização para que a Superintendência desapropriasse a área foi concedida em 25 de agosto pelo então governador Ximeno de Villeroy.

No mês seguinte, foram adquiridos os terrenos de João Batista Gonçalves da Rocha e a Manoel José Fernandes Júnior.

Primeiro inumado

A inauguração do então Cemitério São João Batista ocorreu em 5 de abril de 1891. No dia seguinte, recebeu seu primeiro inumado: uma criança de um ano de idade, por nome Maria. Dois meses depois, a Intendência Municipal concedeu à Santa Casa uma área dentro desse Cemitério. Tal concessão com a condição de que a divisão do terreno fosse realizada de acordo com as regras daquela Casa Legislativa.

O contrato de construção do necrotério e da administração do Cemitério foi então firmado no dia 3 de setembro de 1891. Em 1897, o engenheiro-chefe da extinta Comissão de Saneamento de Manáos, Samuel Gomes Pereira, cogitava a possibilidade de serem encerrados os enterros nessa necrópole. Um dos motivos era que esse Cemitério havia sido construído nas nascentes dos igarapés da Castellana, do Aterro e de Manáos. E que poderiam ser contaminados pelos líquidos que escorriam do subsolo do campo santo, prejudicando os ribeirinhos que se serviam dessas águas.

Fechamento do Cemitério São João Batista

Outro ponto de destaque no relatório do engenheiro Samuel Gomes Pereira foi que o tubo principal do encanamento que saía da casa das máquinas, às margens do igarapé da Cachoeira Grande, em direção ao Reservatório do Mocó foi então instalado muito próximo a esse Cemitério. O que também tornava possível ser infectada a água que abastecia a Cidade.

Talvez por essa razão, em 31 de maio daquele ano, a Intendência Municipal promulgou a  Lei  72,  que  autorizava o fechamento do Cemitério São João Batista e mandava a administração municipal construir outro, em local apropriado. A atual necrópole ficaria apenas com enterros em mausoléus perpétuos, sem a abertura de novas sepulturas. Entretanto, essa lei não teve aplicação na prática.

Ao final do século XIX, a administração municipal mandou substituir a cerca de madeira ali existente por um muro em alvenaria e gradil de ferro. Tal obra teve sua interrupção em 1898 por falta de verba. Somente em setembro de 1900 que a então Superintendência Municipal teve autorização a prosseguir com a construção do muro, o que não aconteceu.

Igarapé da Cachoeira Grande

Em 1902, quando o então Cemitério São João Batista já se encontrava sem área disponível para novas sepulturas, a administração municipal solicitou ao Estado que o auxiliasse na construção de uma nova necrópole. Após a realização de estudos sobre um local apropriado, a escolha foi de um terreno de propriedade estadual. Tal local estava situado à margem direita do igarapé da Cachoeira Grande.

Devido ao Estado e ao Município não disporem de recursos financeiros para realizar essa obra, em 1903, o então superintendente Martinho de Luna Alencar decidiu aumentar o São João Batista. Adquirindo uma área anexa a esse Cemitério, que pertencia a Manoel José Fernandes Júnior e sua esposa.

Nesse mesmo ano, Adolpho Lisboa, sucessor de Luna de Alencar, sugeriu que, ao invés de se construir outros cemitérios.

Irmandade do Santíssimo Sacramento

Lisboa recomendou, também, que a verba destinada à construção de um novo campo santo fosse, em realidade, aplicada na melhoria do São João Batista. Além disso, mandou demolir a capela desse Cemitério em razão das condições precárias em que ela se encontrava.

A Irmandade do Santíssimo Sacramento, por meio da Lei Municipal 337, de 27 de fevereiro de 1904, recebeu, por concessão, uma área dessa necrópole, com capacidade para pouco mais de 150 sepulturas comuns.

Vale ressaltar que foi nessa administração municipal, em 1905, que os muros da avenida Álvaro Botelho Maia e da rua Major Gabriel, foram então erguidos e colocados gradis e portões de ferro. Os muros em alvenaria dos lados das ruas Getúlio Vargas e Belém foram construídos somente no início da década de 20.

Além disso, o superintendente Adolpho Lisboa mandou construir a nova capela, inaugurada em 30 de outubro de 1906. Dois dias depois, em 1º de novembro, essa ermida recebeu a trasladação da imagem de São João Batista, proveniente da igreja de São Sebastião.

Por meio da Lei Municipal 772, de 2 de outubro de 1913, as Irmãs de Sant’Anna receberam a concessão de uma área, nessa necrópole, para a construção de um jazigo assim destinado às religiosas dessa Ordem que viessem a falecer no Estado.

Túmulos antigos do Cemitério São João Batista

Quase dez anos após sua inauguração, a capela desse Cemitério, que encontrava-se já bastante deteriorada, passou assim por um processo de reconstrução, o qual teve início em 1915.

Sua reinauguração, prevista para outubro daquele mesmo ano, não ocorreu. E a tradicional missa de finados, realizada assim sempre em 2 de novembro, teve sua transferência para a capelinha das irmãs de Sant’Anna, situada no próprio Cemitério.

Em 1932, construiu-se um ossuário para guardar os restos mortais não reclamados transferidos do extinto cemitério São José para o São João Batista. Ao todo, existem, nesse ossuário, os despojos mortais de, ao menos, 48 pessoas, conforme placa de mármore existente no local. Duas décadas mais tarde, pela Lei Municipal 294, de 28 de setembro de 1950, teve autorização para a remoção dos restos mortais existentes no extinto cemitério São Raimundo para esse campo santo.

Sepulturas Perpétuas

Na década de 1970, quando o São João Batista, praticamente, já não mais comportava novas inumações. Devido já existirem o então cemitério São Francisco, no Morro da Liberdade, e o cemitério Santa Helena, no São Raimundo, teve cogitada sua extinção, o que não ocorreu.

A Prefeitura de Manaus optaria por disponibilizar essa necrópole apenas para enterramentos em sepulturas perpétuas e, ao mesmo tempo, retomou o processo de exumações.

Em 1982, devido aos três cemitérios municipais já estarem lotados. A partir dessa data, as necrópoles de São João Batista, São Francisco e Santa Helena passariam a receber, “oficialmente”, apenas sepultamentos em jazigos perpétuos. Cinco anos depois, por meio do então Decreto 11.198, de 14 de junho de 1988, o Cemitério São João Batista teve seu tombamento como Monumento Histórico do Estado do Amazonas.

Laborum Meta

Em 2008, como parte do então projeto Corredor Cultural, a Prefeitura realizou obras de restauração e revitalização nesse Cemitério. Foram pintados, nas cores originais, os dois portões de ferro e as grades dos muros, e reformou-se a capela. O projeto previa, também a revitalização no entorno da necrópole.

Localizado na então praça Chile, esquina com avenida Álvaro Botelho Maia, s/n, bairro Nossa Senhora das Graças. O então Cemitério São João Batista possui uma área de vinte mil metros quadrados, dividida em 25 quadras.

Ao todo, esse campo santo contém assim mais de dezenove mil sepulturas e, aproximadamente, cem mil inumados. Em cada um dos seus portões de ferro, fabricados em Glasgow, na Escócia, existe a inscrição Laborum Meta, expressão em latim que significa Fim dos Trabalhos.

Foto: Durango Duarte.

Imagem e texto retirados do livro Manaus, entre o passado e o presente do escritor Durango Duarte.

 

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