Vista dos ancoradores e embarcações no Amazonas, na orla de Manaus no meio do Rio Negro. In: Album do Amazonas 1901-1902.
A Abertura dos Portos Brasileiros às Nações Amigas foi decretada pelo príncipe regente, D. João Maria de Orleans e Bragança, em 28 de janeiro de 1808, seis dias após a chegada da Família Real ao Brasil.
Contudo, a situação diferenciava em relação aos rios da Amazônia: preocupado com uma possível ocupação da Região Amazônica por outros países – sobretudo, pelos Estados Unidos da América –, somente em meados do século XIX é que o Império permitiria a criação de uma empresa, com recursos financeiros e direção nacionais, para explorar o serviço de embarcações, do rio Amazonas e seus afluentes.
Com o intuito de atrair investidores para a instalação de uma companhia de navegação a vapor em rios amazônicos, o Governo Imperial criou a Lei 586, de 6 de setembro de 1850. O projeto era de autoria do deputado paraense João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha. Em 1852, empossado primeiro presidente da recém-criada Província do Amazonas. O empreendimento, no entanto, ocorria pelos investidores como caro e arriscado e, por isso, ninguém apresentou proposta.
Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá
Nesse contexto, surge a figura do gaúcho Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, industrial, banqueiro, político e diplomata. Ele aceitou o negócio em atendimento a um pedido do seu amigo e ministro do Império, José da Costa Carvalho, o Marquês de Monte Alegre. Em troca, o governo franqueou-lhe o monopólio da navegação do Amazonas por trinta anos. Nascia a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas (Decreto 1.037, de agosto de 1852).
Inicialmente, a empresa dirigida pelo Barão de Mauá mantinha duas linhas. A primeira, saía de Belém, no Pará, até a cidade da Barra do Rio Negro, então capital da Província do Amazonas. Então partia a segunda, rumo a Nauta, no Peru.
O primeiro das embarcações comerciais a vapor a navegar os rios da região do Amazonas foi a barca Marajó, que saiu de Belém em 1º de janeiro de 1853 e chegou a Barra dez dias depois. É válido ressaltar, entretanto, que o vapor de guerra Guapiaçu, da Armada Nacional, já atravessado entre Belém e a então Vila de Manaus uma década antes.
Existia então uma crescente pressão internacional para que o governo rompesse o contrato de exclusividade com Mauá. Estava associada à necessidade de escoamento da borracha, produto de interesse mundial, que fez com que D. Pedro II, em 7 de dezembro de 1866, assinasse o Decreto 3.749. Este abria o rio Amazonas à navegação internacional.
A Lei 158, de 7 de outubro
Dois meses antes, por meio da Lei 158, de 7 de outubro, a Presidência da Província do Amazonas já havia então firmado contrato com a Companhia Fluvial do Alto Amazonas. Pertencente a Alexandre Paulo de Brito Amorim, subsidiava a criação de três novas linhas de navegação a vapor entre Manaus e os rios Madeira, Purus e Negro.
Além disso, essa medida também ampliava “o sistema de transportes e comunicações entre a Capital e os países vizinhos, as sedes municipais e os seringais” (GARCIA, 2005).
O Barão de Mauá já havia acumulado uma dívida considerável com os gastos de sua companhia de navegação. Por isso, em 1869, solicitou ao Império a autorização para que pudesse transferir a administração e a exploração do serviço ao capital estrangeiro, permissão que aconteceu em 1871.
Depois disso, após três anos, assumiu a concessão a empresa inglesa Amazon Steamship Navigation Co. Ltd., presidida pelo próprio barão. Essa firma também adquiriu a Companhia Fluvial do Alto Amazonas, de Alexandre Amorim. Além disso, teve, em 1911, seu acervo comprado pela empresa americana The Amazon River Steam Navigation Co. Ltd., de Percival Farquar. Anos depois, foi encampada pelo Governo Federal, que a transformou no Serviço de Navegação na Amazônia e Administração do Porto do Pará – SNAPP, criada em 1940.
Uma nova companhia
Ainda em 1874, Alexandre Amorim tratou de organizar, na Inglaterra, uma nova companhia, a Liverpool and Amazon Royal Mail Steamship Co. Ltd. Em 25 de março desse mesmo ano, aportou, em Manaus, o primeiro navio mercante à vela. Ele vinha diretamente de Hamburgo, na Alemanha, mas de bandeira dinamarquesa – com mercadorias para uma casa comercial alemã que existia na Cidade.
No entanto, apesar desse marco, seria pelas mãos de Amorim que a capital amazonense receberia as três primeiros navios a vapor de curso comercial. O primeiro deles foi o Mallard, em 30 de abril de 1874, cuja viagem iniciou na cidade de Liverpool, na Inglaterra, com escala em Havre, Lisboa, Vigo e Belém. Menos de duas semanas depois, em 13 de junho, foi a vez do Lilian e, no ano seguinte, em 25 de janeiro de 1875, chegou o Amazonas.
Portanto, àquela época, os navios tinham que atracar em ancoradouros no meio do rio Negro. Em pequenas embarcações chamadas de catraias, os passageiros conduziam-se até aos cais aqui existentes, enquanto as cargas, transportadas para terra firme em alvarengas. Os primeiros cais de que se tem notícias em Manaus são o da praça da Imperatriz e o da praça Tamandaré. As referências mais antigas datam da década de 60 do século XIX.
A Lei da borracha
Posteriormente, o governador Silvério Nery, em 1900, instituiu uma lei estabelecendo que a borracha produzida no Amazonas deveria ser inspecionada em Manaus e diretamente daí exportada. Ainda as que fossem oriundas de seringais de propriedade dos exportadores de Belém. Tal medida provocou a transferência de várias casas comerciais da capital paraense para cá, o que aumentou a quantidade de navios em nossos ancoradouros.
Até 1902, ano em que iniciaram as obras de construção do Porto de Manaus, o embarque e o desembarque de cargas das embarcações do Amazonas aconteciam no Trapiche 15 de Novembro. De propriedade do Governo do Estado e localizado próximo ao Cais da Imperatriz, e nos trapiches Ventillari, Fernandes, Teixeira e Witt. Todos particulares, mas que, posteriormente, passaram então a compor o Complexo Portuário de Manaus.
Imagem e texto retirados do livro Manaus, entre o passado e o presente do escritor Durango Duarte.
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