Era um moço como tantos outros, forte, bem disposto. Num desastre, na capital paraense, perdeu as pernas, mas conservou a cabeça. Para usá-la no infortúnio, utilizando o tronco como material de trabalho. Apresenta-se em várias cidades da Amazônia.
Nas principais praças e, para variar, nos mercados. O número é o mesmo, mas não faltam expectadores. Homens e mulheres, crianças e velhos. É a massa curiosa que para ver, e fica. Olhando o homem ser amarrado por populares, qualquer um podendo ser voluntário para o trabalho. Pode ser aplicado qualquer nó, por mais difícil que seja.
Depois de bem amarrado, fazem a experiência, verificam, assim, que tudo foi bem feito. E vem a operação, assim, sensacional. De braços e mãos presos, o homem vai afrouxando os nós das cordas. Aumenta a expectativa da assistência. Ambiente de tensão, de curiosidade popular pela conclusão do trabalho. Uns poucos torcem pelo fracasso. A maioria quer ver logo o homem livre.
Ele retarda um pouco, para dar maior valor ao feito. Pronto! Está livre. Aplausos, sorriso dos espectadores. E corremos níqueis, ou melhor o papel moeda, que pode ser de cinco ou de cinquenta. Uma pausa para descanso e novo ajuntamento de curioso. E o reinício dos trabalhos. Diz ele que a lei das compensações existe mesmo. Antes, “não tinha um pau pra dar num gato”. Agora vai então ajeitando sua vida e já pensa em aposentadoria. Com sua arte de desamarrar.
Coluna A Cidade em Foto do Jornal A Gazeta, 14 de fevereiro de 1964.
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