Primeiramente, não pense que seja fácil. Os incorrigíveis empinadores de papagaio de papel. Fazer uma “rabiola” de pano velho ou mesmo de papel, moer vidro, misturar com goma, passar o cerol na linha e suspender um “banda de asa”, qualquer um faz. Quero ver lá em cima, obrigar um “casqueta” qualquer, comprado no mercado ou feito às pressas no quintal de casa, dar umas “flechadas legais”. Daquela de ir “buscar o chão”. Mostrar numa “trança” que de fato é dos bons, que sabe dar por cima, bem no “pé do peitoral” do outro, colher um pouquinho e… e queda! Ou então dar por cima e descair.
Quem nunca botou um “papagaio” não pode avaliar a beleza que aquilo tudo encerra. O bicho lá em cima, nos céus, obedecendo à nossa vontade. Manobrando de acordo com o nosso pensamento. A intricada combinação de puxavões na linha que uma “trança” requer, exige um grande esforço físico e mental. O braço forte, a vista fica doída, a imaginação trabalha. Pegar o outro pela “rabiola”, evitando a gilete não é para qualquer um. E então, depois dos dois engasgados, o braço tem que ser bom pra colher e levar vantagem.
Assim, o menino da foto é um exemplo vivo daquilo que todos nós somos e que muitos ainda hão de ser: incorrigíveis empinadores de papagaio de papel, sem distinção de cor, credo ou posição social. No ar, todos se igualam. Do menino rico ao garoto pobre lá dos bairros distantes. Se obrigassem à todo “playboy” que anda por aí, fazendo o que não deve, a empinar papagaio, o mundo seria muito melhor. Tem poesia, desenvolve a inteligência, alegra o espírito. Por isso tudo, melhor que ninguém, o então empinador de papagaio compreendeu porque aquele primeiro astronauta russo disse que a terra é azul. E deve ter completado sorrindo: com bolinhas cor-de-rosa.
Coluna A Cidade em Foto do Jornal A Gazeta, 24 de março de 1964.
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